Era o primogênito dum casal que pouco conviveu. Parece mesmo que juntos estiveram apenas para que o menino nascesse. Mas tinha muitos irmãos, de um lado e do outro também. Teve a vida de menino pobre mesmo, acostumado a algumas privações e sufocos. Mas ‘normal’ na vida era isso mesmo, não nasceu ‘virado pra lua’, então, como dizia com muita propriedade contemplando o próprio rosto no espelho; luta é pra ser vencida!
Ficava sozinho em casa quando ainda era pequeninho vigiando seus irmãos enquanto a mãe, agora sozinha, ia trabalhar. Como bom moleque, aprontava de tudo, mas sempre dava um jeito de se safar.
Era um tanto caladão, parecia que vivia dia e noite pensando na vida, no futuro, no mundo de tapas que tinha que dar ou levar pra tentar 'ser feliz’.
Gostava de tudo que gosta moleque qualquer. De TV, videogame, futebol... mas agora se pensa você que o sonho do Joãozinho era virar Ronaldo, está muito enganado! Claro que gostaria de ‘ser alguém’, mas tinha seus dois pés firmados no chão enquanto sua cabecinha viajava no infinito dos sonhos. Se bem que sonho de menino pobre, se realiza com qualquer merreca, não? Obvio que não! Joãozinho era pobre só nas vistas, mas seu espírito era rico... nobre mesmo.
Já com doze anos, decidiu sair de casa. Não batia opinião com a mãe... tinhoso como era ‘sartou de banda’ lá pra casa da vó Nilde. Era mãe do pai, e como bem sabido, tinha uma simpatia imensa pelo neto, mas ficava por aí no quesito simpatia. vó Nilde era meio azeda, como que curtida no sal da vida para conservar a caminhada. Pra ela nem tinha como vir de conversinha fiada que num tinha tempo pra gastar com bobagem. Mas com Joãozinho não, nunca perdiam tempo discutindo, claro, que isso se devia mais ao 'espírito safo' do garoto do que ao jeito de onça da vovó!
Moravam perto da Central de Abastecimento de Hortifrutis, lugar frequentadíssimo por todo o comércio carioca e de boa parte do Brasil. Quando o negócio ficava feio em casa, vó Nilde e Joãozinho iam à cata da vida por lá.
Pra muita gente isso é um fim, digno de relatos com fundo musical sensacionalista de programinha de quinta. Mas pra eles era só o meio. Viviam um dia depois do outro, como Deus queria. Falando em 'Deus', Joãozinho um dia pensou que esse 'Deus' até que poderia dar uma forcinha na vida. Mas nada de favorzinho que a vida num tá pra dever nada a ninguém, nem pra Ele... Mas caladão como era, preferiu deixar isso só no coração mesmo!
Fez o caminho inverso a quase 100% dos moleques cariocas, não esqueceu o futebol, mas meteu a cara nos livros, imaginou que dando braçadas largas, ganharia a vida à remadas, como poucos garotos suburbanos pensam em ganhar; numa sala de aula!
Sua vó quase caiu sentada quando Joãozinho, doidinho da silva, disse que queria ser matemático!
- Matemático? Ganhando a vida fazendo o quê? Vendendo calculadora na Uru?* (*rua Uruguaiana , a 25 de Março do Rio)
- Não vó, meu sonho um dia é entrar na faculdade, cursar matemática e dar aulas pra gente miúda, como eu fui um dia, quer dizer, como sou um pouco ainda hoje... (rs)!
A vó emudeceu. Num sabe ao certo até hoje porque. Será que foi porque era voto vencido? Ou ainda por causa da emoção e orgulho que lhe sufocava o peito?
Então, decidido em lutar sua luta mais voraz, Joãozinho agora rapaz, olha pro céu como que em prece e pensa em pedir a Deus uma chance, mas não proferiu palavra. Ele até sabia como orar, o que não sabia era pedir! Sempre acostumado a cair na pancada com a vida.
Calou-se como sempre, mas sentiu que não estava só como nunca sentira! Uma quentura lhe envolveu o corpo de não mais que metro e meio de gente e seu coração parecia explodir, seus olhos marejados sentiam algo que jamais se deram ao luxo de sentir; AMOR!
Acho que esse negócio é coisa de Deus!
Descobriu Jesus quando o próprio Filho de Deus se revelou a ele no caminho da vida. E não é assim com todos? Pensava! Ao conhecer Jesus dedicou sua vida e usou seu corpo e sua alma pra dançar pra Ele, coisa que faz até hoje com o mesmo amor que sentiu lhe ser dispensado na vida! Falando em vida, ela ainda tá dura, obrigado! Mas agora as forças eram dobradas na tentativa de ganhar seu lugar ao sol.
Quando chegou o dia do vestibular não titubeou, a matemática o esperava lá na frente e Seu Deus o instigava à seguir. Passou não só pra uma, mas pra duas faculdades públicas do Estado do Rio de Janeiro...
Pôde então escolher a melhor grade curricular e o campus mais próximo de casa.
Ficou bobo de ver como ganhou ares de importância a sua vida.
Começou a dar aulas este ano e seu sonho está cada vez mais concreto, mais palpável.
Dia desses perguntei pro Joãozinho se ele sentia orgulho de sua vida, de seu caminho, afinal ele é o primeiro membro de sua família inteira a chegar na faculdade.
Com rosto enigmático e com testa franzida me disse: - 'Cara, num sei... Acho que não...' e sorriu! Só pude sorrir junto com ele, pois a vida lhe ensinava a não ser tolo e viver cada momento saboreando a verdade como um fruto vindo do céu, mas sem deslumbre!
Parabéns Joãozinho, sua vida me inspira!
Wendel Bernardes
Que menino lindo esse! Já virei fã!
ResponderExcluirE que narrativa doce!
(E como me dá náusea o tal do deslumbre, blerhgggg!!! Ele é primo legítimo da falsidade e da hipocrisia. Não é à toa que vez em quando radicalizo aqui e na vida 'real" abafa rss)
Obrigada por texto tão delicado e precioso. Amo coisas simples e verdadeiras. Simples, e não simplórias. Simples, sem complexidade. Com leveza... Ainda que o 'mundo' queira colocar pesos.
Que Deus os ilumine,
R.
Amém Rê...
ResponderExcluirOlha, o Jonathan (ou Joãozinho pros íntimos...rsrsrsr) é mesmo uma pessoa muito iluminada, seu testemunho me desconcerta, e sua vida me inspira!
Bom saber que mesmo diante de tantas pataquadas de gente que se diz 'tão isso', ou 'tão aquilo'... encontramos o VERDADEIROS adoradores como narra João! Aqueles que vivem o que demonstram viver... Sou fanzão do Johnny!
Valeu pelo comentário!