Daquele dia em diante, mestre Benjamim parou de esperar que lhe fizessem perguntas. Ele se assentava e a cada noite contava uma das parábolas do Senhor das historias.
“Um homem perguntou ao Senhor das histórias sobre os mandamentos. Ele respondeu: 'O primeiro mandamento é que devemos amar a Deus mais do que amamos as coisas que possuímos. E o segundo é que devemos amar o nosso próximo com o mesmo amor que temos para conosco mesmos'. 'E quem é o meu próximo', o homem perguntou. E foi essa história que ele contou:
Era uma vez um garçom que depois de uma noite de trabalho, voltava para a sua casa com um pouco de dinheiro que havia recebido como gorjetas para sustentar sua família. Eram quatro horas da madrugada, as ruas estavam vazias e escuras. Valendo-se da escuridão, dois ladrões atacaram o garçom e, além de roubarem o seu dinheiro, bateram nele, deixando-o como morto na calçada. O tempo passou. O sol anunciou a manhã.
Passava por aquela rua, no seu carro, um sacerdote que se dirigia à igreja para celebrar a primeira missa. Vendo o homem caído, ele se lamentou e disse: 'Se não fosse pela missa eu pararia para ajudá-lo'. Rezou um padre nosso e uma Ave-maria em intensão do ferido e foi cumprir suas obrigações religiosas. Logo depois, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico que se dirigia para a sua igreja a fim de dirigir uma reunião de oração. Ao ver o ferido, ele perguntou: 'Meu Deus, que terá feito esse homem para que o Diabo assim o castigasse?' Premido por suas obrigações religiosas ele de longe executou gestos de exorcismo e continuou na direção de sua igreja. Levantando o sol, manhã clara, passava por ali um travesti, em sua lambreta, vindo de uma noite de farras. Ao ver o homem caído, o seu coração se comoveu. Parou, colocou o homem na garupa e levou-o a um hospital. Lá, tirou de seu bolso todo o dinheiro que tinha e disse: 'Para pagar os gastos que houver...'. E desapareceu antes que a polícia chegasse.
Terminada a parábola, Jesus perguntou aos que o ouviam: 'Desses três, qual foi aquele que cumpriu o mandamento do amor?' Todos ficaram em silêncio por saberem a resposta. Mas os religiosos não gostaram... (Parábola do Bom Samaritano)”
Rubem Alves, Perguntaram-me se acredito em Deus, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.
Uau!
ResponderExcluirCaramba, lindo isso... adaptado brilhantemente para a realidade atual da hipocrisia nossa de sempre!
Texto lindíssimo!
Imagino uns e outros lendo que o 'travesti' era seu próximo!
Humpf!
Wendel, quem sabe assim os ouvidos calejados de histórias bíblicas que não entendem, não são arreganhados como putas aos seus clientes? Sim, pois as almofadas do idioma taparam seus ouvidos para não ouvirem e não entenderem a Palavra de Deus. Estou cansado de gente ignorante que são cegas e julgam enxergar e ainda por cima se acham padrões para vida alheia. Tem dó né? Forte abraço meu amigo. Paz e bem
ResponderExcluirDó e Misericórdia!
ResponderExcluirPaz também!
Os religiosos não gostaram kkkk ótimo isso
ResponderExcluirAmiguinhos cá entra nós, que ninguém nos ouça, mas oremos(?) para que nunca o deveres religiosos sejam desculpa para o cabresto auto imposto.
Dias atrás fui cobrada,ou seja, minha ausência foi questionada, mesmo alguns sabendo que eu estava entre putas e travestis chorando com quem chora, que naquele momento alguém precisava de um ombro.
Eu fiquei doida da vida, acho que estou até agora.
Vai passar.
Que isso mana, se o caminho da graça começar a me cobrar bater o ponto, saberei que ele acabou por aqui. Bj
ResponderExcluirNão, Caminho da Graça enquento movimento vai bem oberigado, mas sempre tem um que vive o quadrado mesmo fora do quadrado, entende?
ResponderExcluirsabe aqueles maneirismos, vicios religiosos que expressam a insegurança e vontade de manipular o outro? pois bem.
comigo não rola, boto pra correr rapidinho.
Por trás de tais reações está a pessoa se sentindo só, abondonada, carente, sei lá.
Só vire o disco, é que peço.
Estas abordagens me dão asco.
Verdade, tbm tô fora! Eu hein, é ruim. bj
ResponderExcluir